Nos dias atuais, preocupamos muito com a saúde do corpo – fazemos um certo esforço para que ele esteja saudável; nos dedicamos ao nosso lado intelectual: buscamos conhecimento, estudos diversos, etc. Com o avanço da tecnologia, ficou fácil adentrar nessa imensidão de possibilidades, mas esquecemos de nossa natureza emocional, estamos esquecendo do sentir, na verdade, estamos fugindo do sentir, e essa fuga tem consequências muito graves, mais do que imaginamos.
Por que reprimimos nossas emoções e sentimentos? Nessa dimensão do sentir, vivenciamos o negativo e o positivo, a felicidade e a infelicidade, o prazer e a dor. Para não sentirmos as emoções negativas, as bloqueamos, ao bloquear as ruins, automaticamente bloqueamos as boas. As negativas causam um impacto nos nossos níveis de bem-estar e como não fomos ensinados a enfrenta-las de forma construtiva, preferimos reprimi-las. Não fomos educados para ouvir e respeitar o que apontam nossos sentimentos, ao contrário, para muitos, exprimir sentimentos mais profundos é sinal de fraqueza.
Quais são as consequências desse hábito de evitar, ignorar ou reprimir nossas emoções e sentimentos? Quando não sabemos lidar com nossas emoções elas podem provocar estresse ou ansiedade. Além disso, desarmoniza o ser como um todo afetando até a personalidade. Num extremo temos o exemplo dos esquizofrênicos e psicóticos. Perdemos a conexão com o nosso ser e também não conseguimos ter relações saudáveis, só conseguimos ter relações superficiais ou falsas.
Como já foi dito, a fuga das emoções negativas acabam virando uma fuga das emoções e sentimentos positivos, fazendo com que adentremos numa inacessibilidade emocional. Proibimos de amar a nós mesmos e os outros verdadeiramente. Como receber o que deseja do outro se não sentimos nem expressamos sentimentos?
Ao embotar a capacidade de sentir, nos tornamos inconscientes do que existe no nosso ser mais profundo. Acabamos criando sentimentos falsos. Ao vivenciar situações externas de crise, os sentimentos verdadeiros vêm à tona causando grande desequilíbrio mental. É o tal do engano que temos de que os problemas externos são causadores de sentimentos e emoções desequilibrantes. É a auto-ilusão, que leva a um isolamento ainda mais profundo, à infelicidade, à alienação de si mesmo e a padrões de insucesso e fracasso que repetimos sempre. O que é assimilado adequadamente na experiência emocional, mas em vez disso foi reprimido, será constantemente reativado pelas situações presentes, ou seja, não adianta fugir dessas emoções que elas retornarão no futuro, mas com uma força maior.
O que fazer para mudar esse quadro crítico de fuga? As pessoas devem tentar vivenciar suas emoções e sentimentos quando afloram no momento presente. A criança vivencia as emoções imaturas com muita intensidade, e isso é natural, tem que ser assim para que ela aprenda o significado delas e com o tempo as emoções amadurecem. Assim deveria ocorrer conosco, mesmo que as emoções sejam negativas, temos que aprender a aceita-las no agora, observá-las e reconhecer qual é o significado de cada uma. Ao nos tornarmos conscientes das emoções e sentimentos, do que realmente está acontecendo, ocorrerá uma harmonia entre as faculdades mentais e emocionais, uma não entrará em contradição com a outra, isso gerará aumento da nossa autoconfiança.
Não há nada a temer em tornarmos conscientes do que somos hoje. Se quisermos equilíbrio e harmonia, esse é o caminho.