Missão humanitária é oportunidade para que os estudantes também aprendam sobre cultura do “continente-mãe”, que tem ligação fundamental com as origens brasileiras
Levar atendimento médico a uma população de extrema vulnerabilidade no Benim, quinto país mais pobre do continente africano, e oferecer a estudantes e docentes uma oportunidade de desenvolvimento profissional e humanitário. Esses são os principais objetivos da Missão África, projeto da Inspirali – vertical de Medicina da Ânima Educação. A Missão acontece de 24 de janeiro a 7 de fevereiro, período em que os participantes visitarão e receberão pessoas de dez diferentes vilarejos das cidades de Adjarra e Ganvie. Participarão da Missão cerca de 30 alunos, entre eles, estudantes do curso de Medicina da Faseh – Faculdade da Saúde e Ecologia Humana, em Vespasiano, na RMBH.
A expectativa é atender 500 pessoas por dia com serviços de saúde e pequenas cirurgias. O hospital (Centre de Santé de Adjarra), já em funcionamento na região, servirá como base, mas a expedição será dividida em grupos com diferentes atuações, para prestar atendimento aos vilarejos locais. Além de procedimentos cirúrgicos e visitas domiciliares, os estudantes e os docentes também realizarão ações de educação em saúde nas escolas, orientando a população sobre higiene sanitária, escovação, orientação sexual, alimentação, entre outras.
“Na maioria das vezes, prestamos o atendimento próximo às paróquias do vilarejo, montando uma base, mesmo que improvisada, para que todas as pessoas consigam chegar até nós e tenham a oportunidade de receber assistência”, conta o professor Rodrigo Dias Nunes, diretor médico da regional Sul da Inspirali e coordenador do projeto.
Com 50% da população composta por jovens, Benim enfrenta inúmeros problemas. A maioria da população, em extrema pobreza, não possui saneamento básico, pouquíssimos têm acesso à energia elétrica e com acesso extremamente restrito à educação e saúde, já que não possuem escolas ou hospitais públicos. As principais enfermidades que o grupo deve encontrar são doenças prevalentes como hipertensão arterial sistêmica e diabetes melitus, grande prevalência de malária e uma doença endêmica chamada úlcera de Burili – enfermidade infecciosa que causa uma grande úlcera, geralmente, nas pernas ou nos braços, entre outros sintomas.
Está prevista a realização de diversas pequenas cirurgias e outros atendimentos. Além do trabalho assistencial, parte da programação da Missão será realizara capacitações técnicas em obstetrícia junto às enfermeiras e parteiras locais, com intuito de tentar reduzir as taxas de mortalidade materna e perinatal.
A ação é uma atividade prática e de extensão universitária ao currículo da Inspirali em que participam estudantes que já possuem histórico em ações voluntárias, já participaram e se destacaram em alguma das edições anteriores da Missão Amazônia e estão nos dois últimos anos da graduação. “Todos se esforçaram, estão há meses aprendendo a falar francês, que é a língua oficial local, e realizaram diversas ações para arrecadação de medicamentos que serão levados para a Missão. Lá, não entregaremos uma receita para o paciente, entregaremos o remédio diretamente em mãos”, completa Rodrigo.
“Participar da Missão Amazônia foi uma experiência única! Pela primeira vez, tive um contato mais próximo com outras realidades fora do meu estado, recebi feedback sobre meus atendimentos e fiz amizades. Mas o mais importante foram as trocas com os ribeirinhos, que me ensinaram sobre humildade, sensibilidade, conciliar natureza e medicina. Foi tudo muito bom e transformador. E quando fui aceita para a Missão África, fiquei sem acreditar! A ansiedade já estava a mil, agora faltando dias para a viagem está muito difícil de controlar. Dentro do possível, espero dar sempre o meu melhor. Venho me preparando há meses para essa missão, estudei tanto as patologias quanto as capacitações técnicas e o francês e me sinto preparada. Uma experiência como essa muda e molda muito a gente. Acredito que muita coisa passará a ter um sentido diferente em minha vida”, afirma Aline Oliveira de Souza, aluna do 12º período de Medicina da Faseh, sobre a inesquecível vivência cultural e humanitária no “continente-mãe”.
Cada aluno terá em mãos um sistema de Prontline desenvolvido especialmente para a Missão. Trata-se de um tablet com prontuário eletrônico, cujas informações colhidas irão compor um banco de dados dos pacientes que será, posteriormente, apresentado como modelo para o governo para fortalecer a estratégia de implementação de um Programa de Medicina de Família e Comunidade.
Por que Benim?
Rodrigo Dias Nunes é médico ginecologista e obstetra. Há oito anos participa de um trabalho humanitário na África, junto com a ONG Sementes da Saúde, fundada pela irmã Monique Bourget, que integra a comunidade das Irmãs Marcelinas e é formada em medicina no Canadá. A ONG tem como missão retribuir uma dívida histórica cultural para com o povo do Benim, de onde o Brasil recebeu cerca de 80% dos escravos que chegaram ao país.
A pedido do Vaticano, a irmã Monique vem trabalhando para levar saúde e condições de vida para a população da região, levando médicos para esta experiência de extremo valor humanitário. Lá, montaram um hospital, que hoje presta pequenos atendimentos, mas será inaugurado também para cirurgias e será a base de trabalho para a expedição. Além do hospital, também foi construída uma Casa do Voluntário, com dinheiro proveniente de doações, tendo parte sido arrecadada pelos pais e alunos das instituições da Inspirali, que servirá de alojamento para a expedição.
“Com a parceria da ONG Sementes da Saúde, teremos apoio local na articulação com os agentes de saúde do Benim, Ministério da Saúde e Ordem dos Médicos, além da contratualização de serviços locais de saúde junto aos villages. Contamos ainda com o apoio da Embaixada Brasileira no Benim. Sabemos das dificuldades desta operação, mas escolhemos essa região por ser um território conhecido, livre de guerras e com necessidades que estão em consonância com a trilha humanitária dos cursos de medicina da Inspirali”, explica Nunes.
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